EXCLUSIVO

Entrevista: os planos da Volkswagen Caminhões e Ônibus para o mercado mexicano

Frank Gundlach, diretor-geral das operações da marca, revela à revista Caminhões questões similares com o Brasil no âmbito de transporte e o crescimento da montadora alemã em território mexicano

06/07/2021 06h57Atualizado há 3 anos
Por: Romulo Felippe

 

Romulo Felippe

romulo@editoraviver.com.br

México

 

A Volkswagen Caminhões e Ônibus tem planos ambiciosos para o mercado mexicano. Quem garante é o alemão Frank Gundlach, diretor-geral das operações da marca no México. Na entrevista exclusiva, o executivo revela à revista Caminhões questões similares com o Brasil no âmbito de transporte, o crescimento da montadora alemã em território mexicano (já são 17 anos de operação) e da proximidade com os clientes. Frank é formado na Universidade da Califórnia e com MBA na Universidade de Michigan, ambos em administração de negócios. Confira o bate-papo.

 

Revista Caminhões: Gostaria que fizesse uma análise em relação às similaridades entre o transporte rodoviário de cargas no México e no Brasil.

Frank: Acho que os países são diferentes, mas alguns aspectos são bastantes similares. São países grandes e, apesar de o Brasil ser maior, o México também tem uma extensão geográfica imensa. Outro dia eu estava vendo que o México tem cerca de 9 mil quilômetros de costas. Então deve ter até mais costa do que o Brasil. Uma similaridade é ter essas grandes distâncias, que têm muito a ver com o transporte aqui. Uma coisa também que eu diria é que nós temos uma frota de veículos bastante antiga, com uma média de 18 anos, com bastante quilometragem, e essa composição da frota tem essa similaridade com o Brasil também. Outra similaridade é que temos uma rede ferroviária pequena, a grande maioria do transporte de carga é feita por caminhões e pela estrada, diferente da Europa e EUA. O México tem uma rede de estradas bastante desenvolvida, isso até pela proximidade com os EUA, porque o país é um dos grandes parceiros econômicos dos norte-americanos. Isso gera uma movimentação de cargas gigantesca entre EUA e México. Mas sem dúvida é um país no qual a condição das estradas pode melhorar, assim como o Brasil. Mas existem muitas diferenças também, começando pelo fato de que os mexicanos gostam muito dos veículos bicudos, então parece que você está nos EUA e não no Brasil. 

Sobre essa questão cultural do caminhoneiro mexicano, como vocês têm trabalhado isso já que o México tem a cultura dos caminhões bicudões herdada dos EUA? Como vocês estão ganhando terreno nessa questão?

Eu acho que não dá para falar do mercado como um todo, nós chegamos aqui 17 anos atrás e naquela época era muito forte essa cultura. Eu diria que a gente poderia dividir o mercado de caminhões de carga em três categorias. Vamos chamar a primeira de leves, que vão de 4 a 11 toneladas; médios, que chamam aqui de classe 7 a 8, que vão de 12 a 24 toneladas em média e, depois, os caminhões grandes. E se você observar, os que a gente chama de classe 4, 5 e 6, praticamente todos são chatos hoje em dia. Até porque as cidades mexicanas são diferentes das americanas em termos de espaço, cidades antigas, coloniais, centros urbanos muito condensados. No mercado dos médios também, no qual competimos com o Constelation, isso está mudando muito rápido hoje em dia. Atualmente o Constelation é um veículo bastante aceito por aqui, outras marcas também têm veículos chatos rodando por aqui, há uma boa aceitação no mercado dos médios. No mercado dos leves ainda não, mas com uma tendência muito forte de crescimento. 

 

E nesse ponto entram as montadoras dos Estados Unidos...

Sim, o mercado dos bicudões ainda é muito definido pelas marcas norte-americanas, porque as fábricas aqui no México das marcas norte-americanas são praticamente fábricas que eles compram. Então, eu diria que 80 a 90% do que as fábricas produzem aqui vai para os EUA. E os EUA são um mercado que eu entendo que ainda vai ficar por muito tempo com esse caminhão tradicional bicudo, até por uma questão de percepção e disponibilidade de peças, etc. Mas estamos começando a vender também os veículos “cara chata”, como o MAN e TGX, a Scania também e até as marcas chinesas. É uma taxa pequena ainda, mas com uma grande tendência de acelerar. É através de educação e muita conversa com os clientes sobre as vantagens do veículo “cara chata” que, aos poucos, isso está mudando, sobretudo nas categorias pequena e média.

A legislação no México é parecida coma norte-americana nesse tocante? Porque aqui no Brasil a medida é feita por todo o conjunto rodoviário, de para-choque a para-choque. Nos EUA pega-se apenas a parte do implemento.

A legislação aqui é mais parecida com os EUA nesse aspecto. E tem uma diferença bastante grande, já que a gente falou das similaridades: nos modelos bicudos os mexicanos gostam muito do 6x4, que é uma coisa que a gente vê menos no Brasil do que aqui. É cultural, esses veículos são quase todos 6x4, e nós oferecemos também esses veículos.

A Volkswagen pensa no mercado norte-americano de alguma forma? O México está sendo um ensaio para atingir o mercado lá ou não está nos planos da montadora?

Olha, nós estamos muito focados na América Latina. Não exportamos muito para outros lugares. Você deve ter visto que a Traton está em negociações com a Navistar, e isso é amplamente conhecido. Então, com certeza o grupo Traton tem planos para os EUA. Existe essa negociação e a gente como marca não pode comentar muito a fundo sobre o assunto em termos de negociação, só o que já está sendo divulgado mesmo.

Falando um pouco sobre a história da Volkswagem no México. Como começou todo o processo? 

A nossa operação começou há 17 anos em Puebla. Alguns anos atrás mudamos para a cidade de Querétaro, a três horas da Cidade do México. Nesse período todo estabelecemos uma rede de concessionárias que cobre o país todo. E nesse tempo também aumentamos a nossa linha de produtos, que é bastante parecida com o Brasil. Começamos com alguns veículos e hoje em dia temos a linha do Delivery aqui, a linha do Constelation e vendemos, nos pesados, a marca MAN com TGX e também na linha temos os ônibus de motor dianteiro com oito a nove toneladas e outros rodoviários vindos da Alemanha. Nossa rede foi crescendo e somos uma marca com cada vez mais presença nas estradas. O nosso foco aqui é bastante simples: é a satisfação do cliente. Acho que isso está no nosso DNA, é uma coisa que também diferencia a marca no Brasil. Somos bastante inovadores, eu diria, fomos uma grande inovação no mercado sendo uma das poucas marcas que apostava no mercado dos “cara chata”, assim como os japoneses. Acreditamos que tem muito espaço para crescimento da marca aqui ainda. 

E uma prova disso é que nesse quadrimestre vocês tiveram um aumento de 71% na venda de caminhões em geral...

Sim, nesses últimos quatro meses temos crescido acima da média do mercado, até mesmo na categoria dos ônibus. Ônibus obviamente foi um segmento que sofreu muito com a pandemia e continua sofrendo. Porque a pandemia também afetou o México fortemente. Mas ainda assim estamos crescendo bem e com muitas perspectivas, vontade e energia para cada vez mais fazer com que as marcas Volkswagen e MAN cresçam aqui no México.

 

No Brasil a Volkswagen prepara os caminhões sob medida para os frotistas e caminhoneiros, sempre ouvindo essa turma para estar aprimorando e adaptando o caminhão. O que você poderia destacar no México em relação de ajustes?

A verdade é que os caminhões da Volkswagen nasceram para países tipo México e Brasil, países em desenvolvimento. São caminhões realmente feitos para esse tipo de ambiente. Diria que são caminhões robustos, caminhões que aguentam o tranco e o México não é diferente. Mas tem adaptações sim, por exemplo temos um ônibus aqui que é o Uracan 14 190, que foi um veículo especificamente desenvolvido para o México. O mexicano gosta da porta atrás do eixo dianteiro. No Brasil normalmente a porta está na frente do eixo dianteiro. E esse é o maior segmento de ônibus no México. Então nós desenvolvemos esse veículo especificamente para o México. E no segmento de carga temos um centro de modificações parecido com o que temos no Brasil. Nós fazemos todo tipo de ajuste necessário. Às vezes fazemos projetos específicos para grandes clientes e nós ajustamos da mesma maneira como nós ajustamos no Brasil. 

Há uma linha perfeita de diálogo entre as engenharias do México e a brasileira?

Sim, nós temos uma boa estrutura de engenharia aqui no México. Obviamente ela é menor do que no Brasil, porque a vocação da nossa área de engenharia aqui é mais adaptação para as necessidades mexicanas. E sim, existe uma comunicação muito frequente, completa e nós trabalhamos de mãos dadas com nossos companheiros do Brasil e também da Alemanha. 

Lembro que, há alguns anos no Salão de Hannover, a Volkswagen levou um Constelation e isso despertou imensa curiosidade do público alemão, que é apaixonado pela marca. Imagino que no mexicano. Como foi esse processo, que já virou uma realidade para o mercado?

Eu diria que não foi nem é muito diferente do que ocorreu no Brasil, pois há uma tradição muito forte iniciando-se lá atrás com o Fusca. A Volkswagen motorizou o México trazendo isso. A marca é muito admirada, muito querida, acho que o fato dela ser uma marca alemã, também no México é muito associada com tecnologia, com qualidade, então esse é um ótimo ponto de partida. Existe uma pesquisa aqui que mostra que a Volkswagen é a marca mais querida no mundo automobilístico pelos mexicanos. Hoje em dia as pessoas não associam só a Wolksvagen com carros de passageiro, inclusive esses dias falando com um cliente ele disse: “Puxa, eu compro Volswagen porque é uma marca que conheço desde pequeno. Já andei de Kombi, Fusca, e quando vi um caminhão Volkswagem foi um sonho”. Então, é bastante parecido com o Brasil, apesar de que obviamente a marca tem ainda muito mais presença no Brasil do que no México.

Vocês vislumbram um futuro no México como é no Brasil hoje com a marca com uma fatia de mercado cada vez maior? 

Olha, o México é um mercado muito importante. É o segundo mercado em tamanho da América Latina. A Volkswagen Caminhões e Ônibus é uma empresa que exporta e certamente a internacionalização é muito importante também para nossa marca. O México é predestinado para ser um mercado muito importante dentro desse contexto da nossa empresa. E com certeza nós queremos e nós vamos crescer aqui no México. O México é uma prioridade para nossa empresa e temos um grande potencial aqui. Tem 12 tratados de livre comércio e estrategicamente é muito interessante para nós.

Gostaria de acrescentar algo? Fique à vontade.

Primeiramente, obrigado pela oportunidade de te conhecer pessoalmente, gostei muito dessa interação. E em segundo lugar, a Volkswagen é uma marca muito importante aqui, que cresce, e estamos trabalhando duro para trazer mais força para nossa marca aqui no México deixando os clientes felizes, inovando, trazendo soluções específicas para os clientes mexicanos.  

 

Crescimento 

Nestes primeiros 5 meses do ano, as marcas Volkswagen Caminhões e Ônibus e MAN mantém excelentes resultados de vendas no México, atingindo um crescimento de 58% nas vendas totais até agora em 2021 comparado a 2020, de acordo com dados do registro administrativo da indústria automotiva de veículos pesados ​​(RAIAVP).

Com relação a caminhões, há um avanço importante de 71% no período em relação ao ano anterior. Este segmento é liderado pela família Delivery – principalmente com o Delivery 9.170 –, sendo uma linha que traz grande versatilidade e serve como solução e ferramenta de trabalho para diversos setores.

No segmento de ônibus, o crescimento está em 37% nas vendas de janeiro a maio. Em termos de volume da Volkswagen, o modelo Volksbus 14.190 lidera as vendas. O desempenho resulta da ativação gradual das atividades e da economia no México.

“Este excelente início de 2021 e os bons resultados nos mantêm em um ambiente muito positivo com nossos clientes e distribuidores, com excelentes perspectivas para este ano”, avalia Giovanni Juárez, diretor comercial da Volkswagen Caminhões e Ônibus no México.

 

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