PERIGO

58% dos caminhões basculantes apresentam problemas mecânicos

Medida que exige a instalação de dispositivo de segurança nas famosas "caçambas" é ignorado por motoristas e pelas autoridades de trânsito

01/04/2021 07h49Atualizado há 3 anos
Por: Romulo Felippe

Os acidentes envolvendo os caminhões basculantes – as famosas “caçambas” – se tornaram uma rotina no Brasil desde que os órgãos de trânsito deixaram de fiscalizar o cumprimento da Resolução 563, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A medida exige a instalação de um dispositivo de segurança para evitar o acionamento da caçamba enquanto o veículo estiver em movimento. Sem esse recurso, a parte móvel do veículo pode levantar acidentalmente a qualquer momento. Segundo pesquisa da Federação Nacional da Inspeção Veicular (FENIVE) realizada em 2018, 58% dos caminhões basculantes em circulação no Brasil apresentam algum tipo de problema mecânico.

O caminhão basculante é um tipo específico de veículo equipado com uma caçamba articulada na parte traseira e destinado ao transporte de grandes quantidades de material. A Resolução 563 está em vigor, porém sem a devida fiscalização e preocupação dos órgãos de trânsitos.

Sem a devida fiscalização, notícias de caminhões basculantes que causaram estragos na rede elétrica, viadutos e outros equipamentos públicos são frequentes. Um dos casos recentes foi registrado na cidade de Quatro Pontes, no Oeste do Paraná, quando o veículo com a caçamba acionada arrancou os fios da rede elétrica em parte da cidade. Já em Vargeão, Santa Catarina, o caminhão basculante destruiu o pórtico de entrada da cidade, resultando num prejuízo de mais de R$ 100 mil à prefeitura local.

O diretor executivo da FENIVE, Daniel Bassoli, fala que casos como esses estão se tornando cada vez mais frequentes graças à impunidade e à falta de fiscalização dos órgãos de trânsito. “O Departamento Nacional de Trânsito está completamente indiferente à questão e aos riscos que isso representa. Infelizmente, o assunto só volta à pauta quando ocorre um acidente grave, com vítimas fatais”, critica.

Bassoli se refere a acidentes como o ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, em 2018, quando uma passarela localizada na Avenida Brasil – uma das principais vias de tráfego da capital carioca – desabou depois de ser atingida por um caminhão que estava com a caçamba. O motorista morreu e um pedestre que passava pelo local ficou ferido. 

“Aquele foi um episódio que chamou a atenção do país inteiro, porque é uma região de grande circulação de pessoas e o número de vítimas poderia ter sido muito maior. Mas esse tipo de acidente ocorre com muito mais frequência do que aquilo que poderia ser considerado normal ou uma fatalidade”, comenta o diretor, criticando ainda a subnotificação desse tipo de episódio. “Eles entram nas estatísticas como acidentes de trânsito, como outros quaisquer. Esse é um dos fatores que prejudicam a elaboração de políticas públicas efetivas para mudar esse cenário e obrigar os motoristas a instalar o dispositivo de segurança”, pontua.

Um levantamento realizado pela Fenive em 2018, com 3,4 mil caminhões basculantes, mostrou que 58% dos veículos apresentavam algum tipo de problema mecânico. Foram encontradas cerca de 9 mil “não conformidades”. Destas, 8% foram em decorrência de defeitos ou ausência no dispositivo de segurança. Também foram identificados problemas no sistema de freios, faróis, suspensão e outros itens que prejudicam a segurança veicular.

É possível fazer a instalação do dispositivo nos caminhões basculantes – já considerando o valor do acessório e da mão-de-obra para instalação – a partir de R$ 500 por veículo. “Esses acidentes continuam acontecendo porque os donos dos caminhões se recusam a investir. Infelizmente, a segurança veicular não é uma preocupação do Sistema Nacional de Trânsito”, observa Bassoli.

 

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