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ENTREVISTA

Philipp Schiemer, presidente da MB do Brasil: o alemão de alma brasileira

O executivo, que será partir de julho, chefe mundial de marketing, vendas e serviços ao cliente da Daimler Buses aborda diversos temas

02/05/2020 12h43Atualizado há 5 anos
Por:
Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil
Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil

Bruno Castilho

bruno@editoraviver.com.br

Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina, será, a partir de julho, o chefe mundial de marketing, vendas e serviços ao cliente da Daimler Buses. Ele ocupará o cargo que será deixado por Ulrich Bastert. Quem assumirá a presidência da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina, será Karl Deppen, que atualmente é chefe de controlling na Mercedes-Benz AG.

Em entrevista exclusiva para a Revista Caminhões, Schiemer aborda diversos temas, entre eles, como foi comandar a MB nos últimos seis anos, os desafios enfrentados, estratégias, retomada da liderança de mercado, perspectivas futuras, coronavírus e tecnologias. Confira!

Schiemer, como foi comandar a Mercedes-Benz Brasil nos últimos seis anos?

Além da realização profissional, foi um grande prazer e uma satisfação enorme. Completei 20 anos de Brasil, porque já tinha estado aqui antes por 14 anos, atuando em todas as unidades de negócios: caminhões, ônibus, vans e automóveis. Isso me deu uma bagagem extraordinária e um rico conhecimento dos clientes da nossa marca e do mercado brasileiro como um todo. 

Quais foram os principais desafios e dificuldades que enfrentou?

O grande desafio desses últimos anos foi dar continuidade – e nós conseguimos! – aos investimentos da companhia na modernização das nossas fábricas e das nossas linhas de produtos, assim como de serviços e do desenvolvimento da rede de concessionários. As oscilações da economia local e global foram às principais dificuldades. Isso compromete a previsibilidade, levando muitas empresas de transporte a segurar os investimentos em renovações de frota. Agora que as expectativas eram muito positivas para 2020, temos o novo e enorme desafio mundial dos efeitos da pandemia do coronavírus.

Sob o seu comando a Mercedes-Benz criou diversas estratégias para aproximar o cliente da marca. Em sua opinião qual foi à maior delas?

Sem dúvida, o grande gol da nossa empresa no relacionamento e aproximação com os clientes está estampado no slogan “As estradas falam. A Mercedes-Benz ouve”. Esse compromisso virou um mantra no dia a dia de todos na empresa. Efetivamente estamos cada vez mais presentes na rotina dos frotistas, conhecendo a realidade do transporte de todas as regiões do país, por isso dizemos que conhecemos todos os sotaques do Brasil. Também, de forma pioneira, realizamos o “Dia D Cliente”, quando paramos nossas plantas e escritórios para ouvir a opinião e sugestões de clientes. Muitas ideias já foram aplicadas e outras estão em andamento.

Gostaria que falasse um pouco do Roberto Leoncini e dessa parceria que deu tão certo?

O Roberto Leoncini (vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil) agregou ao nosso time uma vasta experiência em caminhões, especialmente em pesados. Isso ajudou a potencializar ainda mais a já ampla capacidade da nossa força de vendas e de marketing, que, há muitos anos, mantém a nossa marca em posição de destaque no mercado brasileiro. O entrosamento da equipe, entre si e com as demais áreas da empresa, é fantástico e isso se vê também na unidade de ônibus, reforçando nossa competitividade para encarar um mercado altamente disputado como o de veículos comerciais no Brasil.

O que significou para você a retomada de liderança de mercado da MB?

A retomada da liderança é um importante sinal de que estamos no caminho certo. Os números que nos colocam à frente da concorrência em caminhões e ônibus mostram que os clientes estão reconhecendo nosso empenho em oferecer os melhores produtos e as soluções mais eficientes e rentáveis para suas demandas. Por isso, acima de tudo, queremos ser líderes na satisfação dos clientes, visando um relacionamento de longo prazo.

Qual o maior aprendizado que teve à frente da montadora?

Aprender a superar as ondas mais revoltas e conseguir tocar o barco em frente. E a gente encontra cada onda no caminho! Quando as soluções para os desafios estão em nossas mãos, basta arregaçar as mangas. O difícil é quando essas oscilações estão lá fora, no mercado, na economia e na política. É aí que a gente desenvolve uma capacidade extra de superar obstáculos, afinal, temos que seguir em frente.

Como você deixará a Mercedes-Benz para o seu sucessor?

Vou deixar uma empresa moderna, competitiva e preparada para os novos tempos. Com muito orgulho, em conjunto com nossos colaboradores e parceiros e com investimento e apoio da Daimler, somos pioneiros na implantação da Indústria 4.0 no Brasil. E esse processo ainda tem muito campo para crescer. Também vou deixar uma empresa antenada com os desafios da mobilidade e da sustentabilidade, assumindo um papel preponderante no ecossistema do transporte responsável, afinal, temos compromisso com nossos clientes e parceiros e logicamente com a sociedade como um todo.

Você é um presidente reconhecidamente popular, que sempre acordou cedo para visitar a linha de produção, de montagem e que volta e meia atua no Call Center. Também já entrou na cabine de um caminhão para rodar o Brasil. O que você vai mais sentir falta do país?

Vou sentir falta da diversidade ambiental, geográfica e cultural do Brasil. Um país gigante, de dimensão continental, com muita riqueza natural. Desejo que o país utilize de forma adequada todo o seu potencial. Também sentirei falta das pessoas, que são batalhadoras, espontâneas, criativas e alegres, mesmo nas horas mais difíceis. Posso dizer que, após 20 anos aqui, sou um alemão com alma brasileira e tenho orgulho disso.

Schiemer, a economia brasileira, depois que o mundo ajustar esta questão da pandemia do coronavírus, poderia voltar ainda mais forte. Qual a sua visão sobre os danos para a indústria (sem contar os danos humanos) que o coronavírus vai provocar para o Brasil e para o mundo e qual o seu olhar de futuro para retomarmos o crescimento, de fato, de maneira global?

Qualquer análise agora é difícil. Cada um de nós, nesse momento, tem de seguir as orientações das autoridades da saúde e dos governos e ajudar a evitar a disseminação do vírus. Primeiramente, devemos cuidar das pessoas. Mas é claro que também estamos olhando muito atentos os efeitos na economia, na indústria, comércio, mercado e finanças, tanto no Brasil, como em todo o mundo. Todos os países e empresas terão grandes desafios após os efeitos da pandemia, isso é inevitável.

Em relação aos caminhões autônomos na Europa. Sua implantação estava prevista para até 2025. Essa previsão continua a mesma? Acredita que o Brasil pode contar um dia com esta tecnologia?

Todos os desenvolvimentos de veículos em fase de maturação e testes seguem seu curso, mas, por conta da pandemia e de seus efeitos ainda não dimensionados, poderá haver reajustes de planos em algum ou outro projeto. Mas aqui também é um exercício frágil de futurologia. Independentemente disso, o caminhão autônomo um dia chegará ao Brasil, quando isso for viável do ponto de vista tecnológico, estrutural, legal e comercial. Quando isso acontecer, certamente a estrela de três pontas estará à frente das melhores iniciativas.

Você já tem 20 anos de Brasil, como observa o transporte rodoviário de cargas por aqui?

Há um crescimento de demanda pelo transporte rodoviário, especialmente devido aos recordes de produção de grãos, além de outros setores, como mineração, construção civil, grandes obras, transporte de combustíveis e químicos e vários outros. O grande desafio é melhorar a infraestrutura e a logística de escoamento para as exportações e o mercado interno. Para isso, o Brasil ainda precisa de estradas melhores e de condições mais seguras para garantir a produtividade e a competitividade no transporte, além de assegurar o conforto para os motoristas.

O que temos que aprender com os europeus?

O planejamento e a previsibilidade de custos no transporte. Isso depende de todos, do governo, dos órgãos reguladores, das associações de classe, dos fabricantes, dos parceiros e das empresas de transporte e logística. Precisamos de uma ação coordenada para alcançar um transporte eficiente e rentável, com preço justo na ponta da linha para o consumidor.

O que espera encontrar à frente do departamento mundial de marketing, vendas e serviços ao cliente da Daimler Buses?

Encaro esta nova tarefa com bastante humildade. Estou muito motivado, afinal, a unidade de ônibus tem um papel muito importante para os negócios da Daimler e para o futuro da mobilidade. Muitas soluções virão do transporte de passageiros. Levarei para o time da Daimler Buses a rica experiência no segmento de ônibus urbano e rodoviário que vivenciei aqui no Brasil, tendo o cliente em primeiro lugar.

Gostaria que deixasse uma mensagem para o transportador/frotista brasileiro...

Independentemente de todos os enormes desafios que temos enfrentado, continuem investindo e acreditando na profissionalização do transporte. Mantenham foco na otimização de custos operacionais, na eficiência do transporte, na sustentabilidade e na responsabilidade social. A Mercedes-Benz estará ao lado de vocês com soluções para cada demanda, como, aliás, sempre fez em mais de 60 anos de estrada no Brasil.

Perfil

Philipp Schiemer começou sua carreira na Daimler em 1984 e ocupou diversas funções de liderança nas áreas de vendas e gestão de produtos na Alemanha e no Brasil até 1997. O executivo também foi chefe de marketing e vendas da marca Smart. Em 2004, ele retornou ao Brasil e assumiu a chefia de vendas no país. Em 2009, foi promovido a head de marketing de automóveis da Mercedes-Benz em Stuttgart, na Alemanha. Está à frente da presidência Mercedes-Benz do Brasil CEO América Latina desde 2013.

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