Em abril de 2020 a Iveco ganhou um novo comando na América do Sul, respondendo também por mercados da América Central e Caribe. A fabricante de caminhões e ônibus, braço da CNH Industrial, passou a ter o brasileiro Márcio Querichelli como responsável.
Engenheiro mecânico com longa trajetória de 35 anos no setor, em especial na Mercedes-Benz do Brasil, aonde vinha atuando, estão sob sua coordenação as áreas de venda e marketing, além das equipes de pós-vendas, qualidade, engenharia de produto, plataforma e planejamento de demanda.
Em entrevista exclusiva para a Revista Caminhões, Querichelli aborda diversos temas como mercado, os desafios no novo cargo, investimentos, projeções, lançamentos, a trajetória da Iveco no Brasil, caminhões a gás, entre outros.
Caminhões - Você assumiu como responsável pela Iveco na América do Sul logo no início da pandemia do Covid-19. Como tem enfrentado esta situação e como observa esses meses a frente da montadora?
Querichelli - Enfrentamos muito desafios: novas formas de atendimento em tempo recorde, como a implementação de um canal via WhatsApp, e novas regras e processos para proteger a saúde de colaboradores, no complexo industrial de Sete Lagoas (MG), e de clientes, nas concessionárias. A lição que fica é que precisamos estar sempre prontos para mudanças repentinas e para mantermos nossa operação com foco total na satisfação do cliente. O segmento em que atuamos não para, e nós também não podemos parar. O mercado de caminhões sofreu os efeitos negativos da pandemia, assim como todos os setores produtivos, mas o agronegócio e o varejo se destacam positivamente no cenário econômico. Nosso portfólio, da Daily ao Hi-Way, tem opções que proporcionam baixo custo operacional e rentabilidade para esses setores e para outras operações do transporte de cargas.
Caminhões - A Iveco em 2020 investiu alto na expansão de sua rede de concessionárias no Brasil. Neste ano a marca seguirá pelo mesmo caminho?
Quereichelli - Estamos fazendo um ótimo trabalho para ampliar a presença da Iveco em todo o território brasileiro. De norte a sul do país fechamos 2020 com 77 pontos. Para 2021 o trabalho continua. Além de novas inaugurações vamos aperfeiçoar, ainda mais, os serviços prestados na rede para atender os clientes com agilidade e eficiência.
Caminhões - 2020 foi um ano atípico por conta do Covid-19. Qual as perspectivas/projeções da Iveco para 2021?
Quereichelli - Temos muitos desafios pela frente em 2021. A chegada da vacina contra o Covid-19 deve trazer estabilidade no mercado econômico e retorno dos investimentos.
O mercado deve continuar a ser beneficiado com o crescimento das entregas urbanas seguindo o movimento de alta do e-commerce e também com o aumento da produção agrícola. Destaco também o papel fundamental que as reformas tributária e administrativa têm para o país se tornar mais ‘atrativo’ para os investidores.
Outro ponto importante seria a retomada da discussão sobre a renovação de frota. Entendo que o programa de renovação da frota veicular é a maneira mais pragmática e efetiva de buscar o equilíbrio entre as metas de custo prazo, no que diz respeito à redução da emissão de poluentes, como no aumento de produtividade e na diminuição dos custos operacionais dos nossos clientes.
A substituição de um veículo usado, com 20 ou 30 anos de fabricação, por um veículo novo traz vantagens de forma imediata. Desta forma, seria muito importante para o setor que o poder público se posicionasse com mais ênfase sobre essa questão. É fundamental o apoio do governo e crédito facilitado para a compra de novos caminhões. Contamos com o apoio da Anfavea nessa empreitada.
Caminhões - Em termos de novidades, lançamentos, o que podemos esperar por parte da marca em 2021?
Querichelli - No Brasil temos um portfólio completo, dos leves aos extrapesados, mas analisamos o mercado de transportes constantemente para programarmos lançamentos com novas tecnologias embarcadas e novas formas de propulsão.
Caminhões - Como você analisa estes 23 anos da Iveco no Brasil e quais as principais conquistas nestas quase duas décadas e meia?
Querichelli - A Iveco construiu uma base sólida no Brasil, que foi responsável pelo crescimento sustentável da marca. Hoje, a marca tem uma estrutura de ponta que proporciona todas as ferramentas para nos mantermos entre as principais montadoras do país. Somos full liner, temos uma rede de atendimento profissional e estruturada e o complexo industrial em Sete Lagoas (MG), que completa 20 anos de operação com destaque para tecnologia e inovação. Estamos cada vez mais fortes e próximos dos nossos clientes para mostrar os resultados de todo o investimento que fizemos na operação local.
Caminhões - Qual a sua expectativa para os próximos 25 anos?
Querichelli - É muito tempo para prevermos um cenário em um mundo cada vez mais volátil e imprevisível, mas olhamos para frente projetando um futuro de investimentos e muitas novidades que estarão à disposição dos clientes seguindo as tendências de automação, combustíveis alternativos e alta tecnologia.
Caminhões - Como analisa o mercado brasileiro de caminhões e como fazer pra crescer num mercado tão competitivo?
Querichelli - Vejo um mercado de caminhões cada vez mais voltado para a sustentabilidade e para a conectividade. Nesse cenário, temos que pensar em ‘pacotes de soluções’, não só em produtos. O segmento de transporte de cargas é fundamental para a economia do Brasil e temos que olhar com muita atenção para as demandas de caminhoneiros e frotistas pensando sempre em oferecer o melhor custo total de propriedade do mercado.
Caminhões - O DNA da Iveco, como sabemos, é italiano. O que vocês têm levado à matriz na Itália, a partir do Brasil, para o aprimoramento de seus veículos comerciais?
Querichelli - Nossas equipes de desenvolvimento de produto e de engenharia estão em constante contato com a matriz para a troca de informações que possam levar ao aprimoramento dos nossos produtos. A interação promove sempre bons resultados para a operação dos nossos clientes.
Caminhões - Onde a infraestrutura brasileira mais peca para o transportador rodoviário e o que pode ser feito, na sua visão, para melhorar?
Querichelli - O baixo investimento na infraestrutura viária do país é o grande entrave para o transportador rodoviário e para os produtores rurais, por exemplo, que têm grande dificuldade pra escoar a safra por conta das condições ruins das estradas. O ideal seria que o poder público investisse pesado para reverter essa situação com um plano de estado, que ultrapasse as gestões governamentais de quatro em quatro anos. O modal rodoviário é o principal modal de transportes do país e tem que receber a devida importância.
Caminhões - A Iveco foi por vários anos líder no mercado argentino em vendas de caminhões. Como repetir este sucesso também por aqui?
Querichelli - Na Argentina, somos líderes de mercado acima de 16 toneladas e temos uma relevância muito grande no país vizinho. O mercado argentino e o mercado brasileiro são muito diferentes. A presença da Iveco no Brasil é recente, 23 anos, em comparação com os nossos maiores concorrentes. Estamos presentes na Argentina há 50 anos. São operações bem distintas e que se complementam para fortalecer a marca no continente.
Caminhões - Ainda no mercado argentino e também no chileno, a montadora está apostando alto nos caminhões a gás. Em relação ao Brasil, existe alguma estimativa de trazer estes veículos para cá?
Querichelli - A Iveco aposta muito no Gás Natural Veicular (GNV) como uma alternativa viável para a redução de poluentes e custo operacional no transporte de cargas e transporte público de pessoas. A marca enxerga um potencial muito elevado de introdução da tecnologia em aplicações urbanas, principalmente nas grandes capitais. Coleta de resíduos sólidos e entrega de mercadoria porta a porta representam as aplicações típicas da tecnologia GNV.
Dois pontos importantes para esse processo são a retomada do crescimento econômico do país, que irá permitir aos clientes investirem em produtos movidos a combustíveis e trações alternativas, e a aprovação do novo marco regulatório para o setor de gás, que proporcionará os avanços necessários para a formação de um mercado de gás natural aberto, dinâmico e competitivo.
Outro aspecto importante para viabilizar o GNV é o estreitamento das parcerias estratégicas necessárias para que uma nova tecnologia seja introduzida de forma economicamente viável em um local com grandes oportunidades como o Brasil. Isso não vale somente para o GNV, mas sim para qualquer nova tecnologia de propulsão que tenha impacto além do produto. O gás natural é um combustível ‘ambientalmente’ superior ao diesel, por exemplo, o que garante a emissão de menos da metade de monóxido de carbono e de gás carbônico.
Caminhões - Deixe uma mensagem aos frotistas e autônomos brasileiros.
Querichelli - Em nome da Iveco, agradeço a todos os motoristas, caminhoneiros e transportadores pelo trabalho excepcional que estão realizando para a sociedade brasileira transportando grande parte da economia do país pelos grandes centros e pelas estradas! Estamos juntos com vocês e continuamos trabalhando para aprimorar nossos produtos e serviços com foco em rentabilidade e baixo custo de propriedade.
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