Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, feito pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostraram que, em 2021, o transporte rodoviário de cargas ficou em terceiro lugar no ranking de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) no Brasil, mas liderou a lista do setor com o maior número de mortes. No ano passado foram registradas 327 mortes em acidentes de trabalho e 12.771 notificações de acidentes.
Analisando a pesquisa “A realidade do caminhoneiro autônomo em 2022”, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), não é difícil entender o motivo desses números: cerca de 23,7% dos caminhoneiros trabalham de 26 a 31 dias por mês e a média diária de horas ao volante chega a 13. “Não há dúvidas de que os motoristas de veículos pesados estão entre as profissões mais perigosas no Brasil. Toda essa jornada excessiva de trabalho deteriora a saúde física e mental e isso abre portas para um comportamento de risco: o abuso do consumo de álcool e de substâncias psicoativas para trabalhar por mais horas e ganhar cada vez menos. Essa conta não fecha e todos nós pagamos o preço da insegurança viária nas estradas e rodovias", comenta Alysson Coimbra, diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
Veículos pesados: 5% da frota, 47% das mortes
Os dados do Anuário Estatístico da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que, em 2021, 853 ocupantes de caminhão morreram nas estradas federais em sinistros de trânsito e outros 1.616 ficaram gravemente feridos. As condições de conservação das rodovias são, segundo a pesquisa da CNT, a maior dificuldade enfrentada pelos caminhoneiros autônomos. Em segundo lugar, aparece a segurança.
“Para 47% dos entrevistados na pesquisa, a qualidade das rodovias brasileiras é péssima e, para 29%, é ruim. Dirigir durante 13 horas nessas condições agrava em muito a segurança e a saúde. O estresse, a ansiedade, obesidade e doenças cardiovasculares são problemas recorrentes da categoria agravados pela falta de cuidados com a saúde”, comenta. Coimbra.
Segundo a pesquisa, 26,5% dos caminhoneiros nunca fazem checkup e 15,6% disseram que fazem uma vez a cada 3 anos. “O que se percebe é que a maioria dos caminhoneiros só passa por avaliação médica quando faz a renovação da CNH. É importante que esses exames sejam mais frequentes porque, segundo a OMS, 90% dos sinistros de trânsito acontecem por falha humana”, afirma o especialista em Medicina do Tráfego.
Cuidar da saúde desses trabalhadores é cuidar da segurança de todos. Levantamento feito pela Ammetra com base em dados da PRF mostraram que, no ano passado, apesar de representarem apenas 5% da frota total, os veículos pesados (ônibus e caminhões) responderam por quase metade (47%) das mortes e por quase um terço (31%) dos feridos graves nas rodovias federais brasileiras. “A categoria precisa também de políticas públicas de saúde e segurança. Negligenciar esses profissionais é colocar a vida de todos em risco”, comenta Coimbra.
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